Ou será que estamos promovendo competência… e ignorando maturidade?

No discurso, valorizamos inteligência. Na prática, ainda confundimos esperteza com clareza, eficiência com sabedoria e competência com consciência.

Idealmente, inteligência e consciência deveriam caminhar juntas. É dessa integração que nasce a maturidade — aquela capacidade de agir com discernimento, mesmo sob pressão. Mas, no cotidiano das decisões profissionais, essa harmonia ainda é rara.

Onde falta maturidade, surgem distorções. Relações desgastadas, reações impulsivas e decisões que parecem estratégicas… até que o custo aparece. Pessoas com alto potencial técnico se perdem em escolhas desconectadas. E muitas vezes, nem percebem. Somos manipulados com facilidade ou nos tornamos, sem perceber, manipuladores mais ou menos bem-intencionados. A lucidez fica de fora — e o preço chega depois.

Sim, como humanos, temos uma imensa capacidade de criação. Nossa inteligência nos permite desenvolver soluções sofisticadas, atravessar contextos difíceis e entregar resultados em ambientes desafiadores. Mas inteligência, sozinha, não basta. Ela precisa de direção. E é aqui que entra a consciência.

Essa consciência não tem nada a ver com “ser bonzinho” ou com fórmulas motivacionais. Estamos falando da habilidade de se observar com honestidade, sustentar coerência entre intenção e ação, e perceber o impacto real do próprio comportamento.

O que mais vemos, especialmente em cargos de liderança, são profissionais altamente competentes — com formação sólida, raciocínio rápido e produtividade acima da média — que geram rupturas, desmobilizam equipes e criam ambientes de tensão crônica.
Não por maldade. Mas por falta de maturidade emocional, visão coletiva ou autocrítica suficiente para recalibrar a rota.

E, convenhamos: é fácil se impressionar com quem entrega muito. Difícil é manter o olhar treinado para o que sustenta — e não apenas para o que impressiona.

É por isso que seguimos promovendo pessoas brilhantes que depois precisam ser contidas. Contratando pela técnica e demitindo pelo comportamento. E insistindo em processos seletivos que parecem um misto de entrevista e aposta.

No fundo, continuamos avaliando com critérios ultrapassados. Falta coragem para admitir que performance sem lucidez é instável. E que saber fazer não é o mesmo que saber sustentar.

Se quisermos construir ambientes sólidos, times coerentes e lideranças que somem mais do que dividem, o foco precisa mudar. Não basta perguntar o que essa pessoa entrega. É preciso perguntar: em que estrutura interna essa entrega se apoia?

Essa é a diferença entre alta performance e performance sustentável. Entre competência técnica e maturidade psíquica. E, no fim, entre construir algo relevante… ou só repetir padrões que já conhecemos bem.

Vale refletir: quando avaliamos pessoas, estamos mesmo olhando para o que sustenta? Ou seguimos seduzidos por quem sabe performar, mesmo que desequilibre tudo ao redor?

E se for para rever critérios, que seja com a precisão de quem sabe — e a lucidez de quem já viu isso de perto.